Consta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu um
barulho estranho vindo do
quintal onde tinha uma capoeira.
Chegando lá, constatou que um gatuno tentava levar os seus
patos de
criação. Aproximou-se
vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o
ao tentar pular o muro com os seus gordos patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor
intrínseco dos
bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de
profanares
o recôndito lugar da minha
habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa
e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo… mas se é para
zombares da
minha elevada
prosopopeia de cidadão português,digno e honrado,
dar-te-ei
com a minha bengala
fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o
farei com tal ímpeto
que te reduzirei à quinquagésima potência
que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso que não compreendeu nada do que o Bocage tinha
dito perguntou-lhe:
-Doutor, afinal levo ou deixo os patos?