A Pátria, sou eu, és tu...
Envergonha-me a vaidade
E orgulho-me de poder tê-la.
Esta, a Noite da Verdade,
Nesta minha dualidade
Salvou, em vez de perdê-la,
A Vida na minha idade…
Valente,juventude, valeu
O que vale aos vinte e três…
Infantes, melhores do que eu,
Que nesta noite de breu
Tanto porfiou e fez
Que a minh’alma cresceu…
Estava, na ilha do Cômo
De mata densa e fechada,
E lama, e moscas, e nada...
O Quartel era um assomo
De uma frágil paliçada.
As Armas quase fundiam
De tanto fogo lançar.
Portaram-se como deviam;
Agora, vão descansar.
E eu, terei que esconder
A verdade da façanha,
Pois, houve alguma manha
Em guardar as munições
Para outras ocasiões...
Com a Lei em trinta e seis,
(Um valor pouco seguro
Para defesa no escuro)
Duzentas e dezasseis
Partiram p’la Boca fora
E mandaram tudo embora…
Destroçados, acabrunhados,
Depois de muitos minutos,
(Quase na terceira hora)
Mais molhados que enxutos,
Partiram sem um lamento
Deixando, por testamento,
Não haverem mais Soldados,
No local onde me sento.
Morto não sou, porque vivo
E isto escrevo e digo!
As traições a camaradas
Não se apagam nem esquecem
Por mais ou menos palavras
Ou actos que imerecem.
A Pátria, sou eu, és tu
E não qualquer Belzebu.
Santos Oliveira
Ilha do Cômo/Guiné
17NOV64
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