O Vice-Almirante Gouveia de Melo
O que fica para a história sobre a liderança de Gouveia e Melo
Na hora de despedida, peritos nacionais em liderança das
organizações mostram-se "impressionados" com o estilo do
vice-almirante e lembram que a liderança não depende só de
uma pessoa, nem de ter o "herói certo”. Sete meses depois de
ter assumido a coordenação da task force da vacinação contra
a covid-19 o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo prepara-se
para entregar a chave de uma das maiores operações de
emergência de sempre - vacinar massivamente a população
portuguesa em tempo recorde.
Complexas foram a resposta mais eficaz à desconfiança que
persistiu demasiado tempo, quando os portugueses assistiam
a um arranque de um processo de vacinação confuso e onde
começavam a alastrar abusos e favorecimentos.
Missão cumprida, Gouveia e Melo vai deixar para memória
futura as "lições aprendidas" e entregar ao ministério da Saúde
um guião de todos os passos que foram dados, a organização,
as prioridades e as suas próprias impressões. Segundo indicou
ao DN fonte oficial da task force é ainda intenção desta
equipa colocar um texto na Wikipédia, quando a missão
terminar. Mas este indiscutível sucesso - mensurável, por
exemplo, pelo facto de se ter vacinado 70% da população
antes da data prevista e de colocar Portugal no topo dos
países com mais pessoas vacinadas (a previsão da task force
estima que entre a 3ª e a 4ª semana de setembro se atinja
os 85% da população totalmente vacinada) - deveu-se
apenas a uma só pessoa? O "guião" que pretende deixar
um exemplo, que serve para outros organismos públicos? Este
estilo de liderança é replicável? Qual o segredo do sucesso
desta liderança? E o que aprendeu o próprio vice-almirante,
um militar de carreira que nunca tinha liderado uma operação
civil? Campo magnético ao telefone do carro, no regresso de
uma visita ao centro de vacinação da Guarda, na passada
quarta-feira, Gouveia e Melo responde desde já à última
interrogação: "Aprendi a trabalhar num sistema menos
hierarquizado, em que o processo de negociação é a essência,
o que, em geral, não acontece nos militares. Aprendi a negociar
até à exaustão porque essa negociação é a cola de toda a
operação. Negociei e discuti ideias até haver quase consenso
de grupo. A partir daí, as coisas funcionam como um campo
magnético e todas as partículas vão nessa direção. Usava muito
essa expressão de campo magnético - que orienta as partículas
do sistema na mesma direção e nem é preciso dar ordens.
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