quarta-feira, 12 de junho de 2024

 

 

Assim era Bocage...

A arte de bem falar (antes do acordo ortográfico).


Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia,

ouviu um barulho
estranho vindo do quintal.

Chegando lá, constatou que um ladrão tentava levar os

 seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e,

 surpreendendo-o ao tentar pular
o muro com os seus amados patos, disse-lhe:

-Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor

intrínseco dos bípedes
palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de

profanares o recôndito da
minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e

à socapa.

Se fazes isso por necessidade, transijo... mas se é para

 zombares da minha elevada
prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com

 a minha bengala
fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal

ímpeto que te
reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo

denomina nada.

E o ladrão, confuso, diz:
-Doutor, afinal levo ou deixo os patos?

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