quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Curiosidade Histórica


 Carta do Infante D. Pedro a D. Duarte [1426]
Carta enviada de Bruges, pelo Infante D. Pedro a
 D. Duarte, em 1426.
Resumo feito por Robert Ricard e constante do seu
 estudo «L’Infant D. Pedro de Portugal et “O Livro da
 Virtuosa Bemfeitoria”», in Bulletin des Études Portugais,
 do Institut Français au Portugal, Nova série, tomo XVII,
1953, pp. 10-11).
«O governo do Estado deve basear-se nas quatro virtudes
 cardeais e, sob esse ponto de vista, a situação de Portugal
 não é satisfatória. A força reside em parte na população;
 é pois preciso evitar o despovoamento, diminuindo os
 tributos que pesam sobre o povo.
Impõem-se medidas que travem a diminuição do número
 de cavalos e de armas.
É preciso assegurar um salário fixo e decente aos 
coudéis,
 a fim de se evitarem os abusos que eles cometem para
 assegurar a sua subsistência.
É necessário igualmente diminuir o número de dias de
trabalho gratuito que o povo tem de assegurar, e agir de
tal forma que o reino se abasteça suficientemente de
víveres e de armas; uma viagem de inspeção, atenta a
estes aspetos, deveria na realidade fazer-se de dois em 
dois anos.
A justiça só parece reinar em Portugal no coração do Rei
 [D. João I] e de D. Duarte; e dá ideia que de lá não sai,
porque se assim não fosse aqueles que têm por encargo
 administrá-la comportar-se-iam mais honestamente.
A justiça deve dar a cada qual aquilo que lhe é devido, e
 dar-lho sem delonga. É principalmente deste último ponto
de vista que as coisas deixam a desejar: o grande mal está
na lentidão da justiça. Quanto à temperança, devemos
confiar sobretudo na ação do clero, mas ele [o Infante
 D. Pedro] tem a impressão de que a situação em
 Portugal é melhor do que a dos países estrangeiros
que visitou.
Enfim, um dos erros que lesam a prudência é o número
exagerado das pessoas que fazem parte da casa do Rei e
da dos príncipes. De onde decorrem as despesas
 exageradas que recaem sobre o povo, sob a forma
de impostos e de requisições de animais. Acresce
 que toda a gente ambiciona viver na Corte, sem
outra forma de ofício.»
Quase 600 anos antes…e estamos na mesma!..



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