quarta-feira, 20 de setembro de 2023


Como o tempo passa.

 

Creio que devo estar a ficar geronto!

Pelo que vejo no  pessoal próximo do meu 

nível etário. 

Rapazes que eram mais novos do que eu 

noto neles uma certa gerodermia.

Até os políticos parecem são mais velhos,

mas eu consigo ser mais velho que eles.

A minha conduta vai-se alterando em várias

vertentes.

Já comecei a gostar de sopa de nabiças. 

A apetece-me voltar  mais cedo para casa.

 A observar, no espelho matinalmente para

ver o desabamentos das rugas imprevistas,

 a boca entre parêntesis cada vez mais fundos.

A ver os meus retratos de criança como se

fosse um estranho.

 Vou deixar de me  preocupar com o futebol,

 eu que sabia de cor os nomes de todos os 

 jogadores  do F.C.Porto.

A desinteressar-me dos gelados, de bons sapatos.

Agora, prefiro umas pantufas estar na internet.

Quando saio, ando de  vagar, contar os

 pombos na praça de Vila Flor, que aí circulam,  

e de mãos atrás das costas como os chefes de

 repartição e outros funcionários sentados nos

 sofás discutindo assuntos de lana-caprina.

Sentar-me no jardim  com colegas de boné na

 cabeça. 

Quando percorro uma das ruas da Vila Flor às 

vezes fico parado, numa atitude de Estátua de

 Liberdade.

 Quando  dou por mim, encontro o meu sorriso na 

mesinha de cabeceira, a  troçar-me, num copo de

 água, com alguns dentes de plástico.

 Recordo o  meu lugar à mesa pelos frasquinhos dos 

medicamentos sobre a toalha, que  me farão lembrar 

as bandeiras que os exploradores antigos, vestidos 

de  urso e como os automobilistas dos tempos

 heróicos, cravavam nos gelos  polares.

Sim, devo estar a ficar senecto.

 E no entanto, sem que me dê  conta,

 ainda me acontece apalpar a algibeira à procura da

 fisga.

 Ainda gostava de ter um canivete de madrepérola 

com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas e

 chave de parafusos. 

Gosto de recordar a fotografia em fato de banho ainda 

sinto vontade de escrever o meu nome depois de 

 embaciaro vidro da janela com o hálito. Pensando bem

 (e digo isto ao espelho), sou um senhor de idade

 Que  conservou o coração de menino.

 Sou um menino cujo envelope já se gastou!

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