Como o tempo passa.
Creio que devo estar a ficar geronto!
Pelo que vejo no  pessoal próximo do meu 
nível etário. 
Rapazes que eram mais novos do
que eu 
noto neles uma certa gerodermia.
Até os políticos parecem são mais velhos,
mas eu consigo ser mais velho que eles. 
A minha conduta vai-se alterando em várias 
vertentes.
Já comecei a gostar de sopa de nabiças. 
A apetece-me voltar  mais cedo para casa.
 A observar, no espelho matinalmente para 
ver o desabamentos
das rugas imprevistas,
 a boca entre parêntesis cada
vez mais fundos.
A ver os meus retratos de criança como se 
fosse um estranho.
 Vou deixar de me  preocupar com o futebol,
 eu que sabia
de cor os nomes de todos os 
 jogadores  do
F.C.Porto. 
A desinteressar-me dos gelados,
de bons sapatos. 
Agora, prefiro umas pantufas
estar na internet. 
Quando saio, ando de  vagar, contar os
 pombos na praça de Vila Flor, que aí
circulam,  
e de mãos atrás das costas como os chefes de
 repartição e outros funcionários sentados nos
 sofás discutindo
assuntos de lana-caprina. 
Sentar-me no jardim  com colegas de boné na
 cabeça. 
Quando percorro uma das ruas da Vila Flor às 
vezes fico parado, numa atitude de Estátua de
 Liberdade.
 Quando  dou por mim, encontro o meu sorriso
na 
mesinha de
cabeceira, a  troçar-me, num copo de
 água, com alguns dentes de plástico.
 Recordo o  meu
lugar à mesa pelos frasquinhos dos 
medicamentos sobre a toalha, que  me farão lembrar 
as bandeiras que os exploradores antigos,
vestidos 
de  urso e como os automobilistas dos tempos
 heróicos, cravavam nos
gelos  polares.
Sim, devo estar a ficar senecto.
 E no entanto, sem que me dê  conta,
 ainda me acontece apalpar a
algibeira à procura da
 fisga.
 Ainda gostava de ter um canivete de madrepérola 
com sete lâminas, saca-rolhas, tesoura, abre-latas e
 chave de parafusos. 
Gosto de recordar a
fotografia em fato de banho ainda 
sinto vontade de escrever o meu nome depois de 
 embaciaro vidro da janela com o hálito. Pensando bem
 (e digo isto ao espelho), sou um senhor de idade
 Que  conservou o coração de menino.
Sou um menino cujo envelope já se gastou!
 
 
 
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